Com Walden não foi bem assim, o livro apareceu aqui em casa depois de um dos garimpos de livros usados que faço com minha companheira - e já nos desapegamos deste. Primeiro li o verso, a contracapa e comentei sobre ele num fórum, o Órbita do Manual do Usuário, onde me falaram um pouco sobre o que seria. Resolvi ler por achar que valeria o conhecimento sobre o assunto, mas...
Desisti de ler Walden. Existe no texto uma pegada extremamente elitista e que me soa hipócrita. Trata-se de uma pessoa de grandes posses, para ficar num vocabulário mais próximo da época em que foi escrito, falando sobre a necessidade de termos menos coisas em casa, reclamando que não deveríamos julgar as pessoas pelo que elas tem, mas pelo que fazem. Isso começa a me soar como o que hoje seria um papo de coach. Alguém que tenta se justificar sobre seus privilégios.
Há ainda um papo de minimalismo, relatando como se os Árabes tivessem casas com mobílias mais simples, mas de uma forma pejorativa, indicando surpresa. E mesmo assim, se pesquisarmos, veremos que é o contrário.
Essa necessidade de demonstrar que a sociedade, do jeito que se encontra atualmente, nos molda de forma a buscar uma aceitação, hoje parece algo quase anedótico.
É deveras intrigante que constantemente seja usado o termo selvagem para se dirigir aos indígenas que vivem ou viveram nos EUA, entretanto, com frequência fica claro que quem está vivendo de maneira no mínimo precária é o dito civilizado sendo consumido pelo sistema capitalista - apesar de até agora o sistema não ter sido nomeado de vilão.
Toda a análise social feita com relação ao uso/fabricação de nossas vestimentas, depois a análise sobre como fica a relação do trabalho e a possibilidade de termos nossa casa própria se mostra muitas vezes, na verdade sempre, muito rasa, pois até o momento não considera que o capitalismo oprime o trabalhador e favorece apenas aquele que é dono do capital.
Apesar da premissa ser a necessidade de se consumir menos, de propor que todos tenham uma moradia e que o essencial seja obtido antes de correr os atrás de supérfluos, o processo é completamente equivocado ao jogar sempre no indivíduo a necessidade e a obrigação de resolver sozinho o seu problema, sem questionar como O capitalismo está (e já estava) construído para não permitir que isso ocorra.
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