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quarta-feira, 3 de julho de 2024

A tetralogia napolitana de Elena Ferrante

Já algum tempo eu estava buscando alguma leitura para me prender, daqueles livros que dão vontade de chegar em casa logo para poder voltar a ler, de esquecer que tem que ir dormir cedo para trabalhar no dia seguinte, de torcer para sábado e domingo chegarem para passar o dia todo lendo. E essa tetralogia me entregou justamente isso. De Fevereiro até Junho, só o que eu fiz foi ler Elena Ferrante. Fiquei tão fissurada, que fui correndo assistir a série da HBO assim que terminei a leitura, para continuar com o gostinho da trama na boca.

A tetralogia napolitana de Ferrante já é considerada um clássico da literatura contemporânea por alguns entendidos da área e hoje eu entendo porquê. Nesses quatro livros, acompanhamos o nascimento, desenvolvimento e morte da amizade de duas personagens: Elena (Lenu - a narradora da história) e Rafaela (Lina/Lila), que parecem tão distintas em personalidade, mas que, vez ou outra, se pegam vivendo os mesmos impasses e as mesmas contradições.

(Pode conter spoilers)

Em A Amiga Genial, Ferrante estabelece as raízes dessa amizade, constrói o cenário e as personalidades das duas garotinhas, que logo vemos se transformando em duas adolescentes. "Eu sou a má, você é a boa", disse Lila, já fazendo essa primeira distinção. Morando no mesmo bairro, em prédios vizinhos, e frequentando a mesma escola, Lenu e Lila pareciam ter destinos similares: ambas inteligentes, sagazes e destemidas. Logo estabelece-se uma relação de quase simbiose e competição entre as duas. Contudo, no final da quarta série, as duas amigas são obrigadas a se separar, pois, enquanto Lenu continua seus estudos no Fundamental II, Lila é impedida de estudar por sua família, que precisa de ajuda no comércio. Neste momento ocorre uma cisão irreparável entre as duas. Lenu iria viver tudo aquilo que Lila tinha planejado para a sua própria vida, mas não teve oportunidade de seguir. Separam-se em "o que Lenu foi e Lila poderia ter sido" e "o que Lila foi e Lenu pode se tornar se não prestar atenção aos seus passos", quase como se uma mesma pessoa visse a separação de sua linha do tempo em dois multiversos onde tomou decisões (ou decisões foram tomadas por outros sobre si) que mudaram para sempre sua vida. 

Em História do Novo Sobrenome, o livro se desenrola em volta das relações amorosas e conjugais de Lenu e Lila. Enquanto Elena tenta conciliar essas relações com seus estudos, Lila tenta conciliá-las com as expectativas de sua família e de todo o bairro. Este segundo livro foi o mais babadeiro, cheio de acontecimentos movidos pela juventude dos personagens, afoitos em viver, perseguir seus sonhos e errar o tempo todo. Justamente por isso, essa unidade carrega uma tensão difícil de explicar. Aquela da classe trabalhadora, das pessoas que vieram do nada, de que qualquer passo dado em falso poderia significar a completa perdição das personagens. Elas não tem direito a uma segunda chance. 

Aqui, você começa a conhecer tão bem as personagens, seus medos e sonhos, que, durante todos os outros livros, por mais inesperado que seja um acontecimento, uma tomada de decisão, você percebe o embasamento daquela escolha. A forma de agir de Lenu e Lila nunca é aleatória. Ao final, você já está soltando mentalmente frases como "típico da Lila agir assim". 

Em História de quem foge e de quem fica, percebemos um crescendo na tensão política do momento, com ascensão do fascismo na Itália e perseguição aos comunistas. Também observamos o início de movimentos e discussões feministas até hoje contemporâneas, sobre a infiltração de todas as filosofias acadêmicas de igualdade nas classes operárias, menos estudadas, extremamente exploradas e subjugadas por outras classes diariamente, ou até mesmo subjugada entre seus próprios membros. 

Essas reflexões político-ideológicas permeiam todos os campos da vida de Lenu, agora uma escritora conhecida que não mora mais no bairro de origem, que precisa descobrir como se posicionar, como ajudar, como contar a história do seu bairro sem ser perseguida, sem perder leitores, conciliando o papel de feminista com o papel de esposa, mãe e "menina do bairro que deu certo". 

Para mim, foi o livro mais bonito, o que mais me tocou, pois a personagem passou pela idade que tenho hoje. Em muitas páginas, me peguei fazendo as mesmas indagações de Lenu, me indignando com as mesmas coisas, refletindo sobre qual aspecto me resignar ou não, sobre o que se pode mudar do nosso cotidiano e o que não se pode mudar, me olhando no espelho buscando entender quem ou o que eu tinha me tornado.

Por fim, em A menina perdida,  Lenu volta ao bairro de origem e volta a dividir o cotidiano e jornadas de vida com Lila. A reaproximação das duas é algo positivo ou negativo? Precisa ser apenas uma dessas coisas? Já mais amadurecidas, as nossas protagonistas simplesmente resolvem serem quem são, despir as máscaras, viver as suas verdades e seus sonhos de acordo com a possibilidade de suas realidades. De fundo, sempre há o questionamento se existe mais para se viver além do bairro e, se existe, para que viver essas coisas? Será que vale a pena? É um livro que deveria trazer respostas, mas não traz. Só traz mais perguntas, mais indagações, assim como é a vida. Sem resoluções mesmo.

Duas coisas que eu me apaixonei nessa tetralogia foram: (1) Durante a narrativa dos quatro livros, conseguimos distinguir claramente o ponto de vista enviesado de quem conta a história. Tendo conhecimento da história dos personagens, você se torna tão íntima de suas personalidades que já consegue separar o que é fato do que é opinião. (2) Você nunca sabe a quem se refere o título dos livros. Seria Lila ou Lenu a Amiga Genial? Ou seriam ambas? A história do novo sobrenome, será o de Lila ou de Lenu? Quem fugiu e quem ficou? E quem voltou? Quem é a menina perdida? Esse título é literal ou subjetivo? O mais curioso é que, mesmo depois de ler os quatro livros, ainda não há uma certeza. Pois os títulos dos livros não são sobre uma ou outra, são sobre as duas, em momentos distintos, ao mesmo tempo, mas sempre as duas, vivendo vidas diferentes, mas que se cruzam em tantos pontos.

Eu vi gente no Twitter falando que o livro é chato, pois nada acontece. Fiquei indignada, pois para mim é justamente o contrário: uma vida inteira acontece. Na verdade, duas vidas inteiras. E nós temos o privilégio de acompanhar a evolução dessas duas mulheres passo a passo, suas decisões, seus arrependimentos, seus sentimentos contraditórios. É de uma beleza e reflexão incríveis. 

domingo, 30 de junho de 2024

Amor, dever e destino - Tawany Carvalho

No seu livro de estreia, Tawany mostra a sua capacidade inventiva e seu potencial como escritora. Com uma narrativa jovem, a autora submete seus personagens apaixonados e cheios de sonhos a diversos reveses da vida. É um livro onde acontece bastante coisa, mesmo, de desilusão amorosa até terceira guerra mundial, com diversas reviravoltas e mudanças de cenário. Às vezes, as mudanças foram tão rápidas que foi um pouco difícil de acompanhar.

Sei que ela tem outros livros publicados, mas não os li. Não sei o quanto sua escrita amadureceu de lá para cá. Tendo como base apenas essa obra, creio que a autora possa reduzir um pouco a quantidade de dramas e focar em se aprofundar nas emoções que cada acontecimento individual desperta nos seus personagens. Senti que alguns acontecimentos importantes foram retratados muito por cima, como se não fossem grande coisa na vida daquelas pessoas, sendo que eram acontecimentos gigantescos. 

Enfim, uma boa obra de estreia, bem escrito e revisado. Contudo, acho que, definitivamente, não sou o público-alvo. 

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Inquebrável - Gisele Pereira

Em Inquebrável, Gisele Pereira nos conta a história de Maddu, uma jovem que se entregou à depressão e ao alcoolismo após a trágica morte de seu companheiro e seu bebê, ainda na barriga. Mesmo com suas amigas e familiares fazendo de tudo para tirá-la do buraco onde se encontra, Maddu não consegue melhorar, pois está entregue ao sofrimento.

É quando conhece Davi, um rapaz lindo, num bar, completamente embriagada. Acorda no seu apartamento minimalista aflita, sem saber o que tinha acontecido na noite anterior. Mas Davi é uma boa pessoa e apenas cuidou de Maddu para que pudesse voltar para casa em segurança.

Algum tempo depois, Maddu, que estava numa entrevista de emprego, esbarra com Davi num shopping e descobre que além de lindo e boa pessoa, ele é extremamente rico e dono do shopping. Então os dois se envolvem profissionalmente e, não muito tempo depois, sexualmente e amorosamente. Mas Davi não é perfeito e também carrega seus traumas consigo. Então Maddu e Davi precisam superar seus traumas e se abrir para um relacionamento que pode ajudar a colar seus pedaços de volta no lugar.

Bom, Inquebrável é a típica história da "menina e do CEO", com todos os clichês que poderia vir junto, como "homem rico, mas com alma quebrada". É uma história bastante intensa, os personagens se conhecem e em pouco tempo já declaram amor, Davi já se compromete a consertar Maddu. O enredo é previsível até 75% do livro, ponto onde vira totalmente a chave e fica até um pouco fora da realidade, beirando a trama de novela da Globo. Achei os diálogos um cado repetitivos também. 

No geral, é uma história interessante para quem gosta de um bom dramalhão com romance e final feliz e quer uma leitura descompromissada. 

Quincas Borba - Machado de Assis

Em Quincas Borba, pasme, não acompanhamos a história de Quincas, mas sim de Rubião, mas também de Quincas. Machado não era nada óbvio e adorava fazer jogos de palavras e brincar com o nosso entendimento. Quincas era um aristrocrata que tinha um cachorro, também chamado de Quincas, e Rubião como cuidador/amigo pessoal. Ao falecer, o Quincas humano deixou à Rubião sua fortuna e seu cachorro, Quincas. Então Rubião deixou Barbacena e foi usufruir da sua nova vida aristocrática no Rio de Janeiro com seu amigo Quincas, canino.

Já no percurso de trem entre as cidades, Rubião conhece o casal de capitalistas Cristiano e Sofia e, como não poderia deixar de ser, Rubião se encanta pela esposa do mais novo amigo. Machado adorava expor essas tensões e relações que sempre aconteceram por baixo dos panos na aristocracia carioca. 

Sofia cozinha lentamente Rubião em banho-maria. Não o corta e, ainda por cima, vive mandando sinais confusos sobre suas intenções. Por anos! Rubião, inclusive, dispensa diversas oportunidades de se envolver amorosamente com outras mulheres não comprometidas por conta desse cenário agridoce. Cristiano, ficando a par da situação, ao invés de afastar o mais novo amigo, o aproxima ainda mais, envolvendo Rubião e a sua grande herança em negócios que se mostram bastante infrutíferos. 

Sem querer estragar o final, posso apenas dizer que esse foi um dos livros mais melancólicos que li e Machado. Apesar de sempre divertido, irônico, sarcástico e provocador, Machado expõe um lado triste e cruel da alta sociedade, fazendo seu personagem principal a maior vítima da ganância e do medo de outrem de se associar com pessoas não bem vistas.

Fechei, com este livro, a leitura dos maiores romances de Machado, ainda mais convicta da genialidade desse autor que, mesmo séculos após sua escrita, ainda se faz tão atual nas suas críticas.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Antes que eu pisque - Beatriz Faria

"Antes que eu pisque" é uma noveleta que transcorre suave na leitura. Beatriz Faria nos conta um pequeno trecho da história de Ana e Fred, que se encontram ao completo acaso no aeroporto de Brasília no meio de um blecaute histórico. Acontece que Ana e Fred não eram completos estranhos, eles já tinham se beijado aleatoriamente num Reveillon desses da vida, então você imagine que delícia vivenciar esse constrangimento de perto? Foi ótimo. No meio do constrangimento, do não saber onde colocar as mãos ou os olhos, há ainda toda a descoberta de quem é aquela outra pessoa, momentos de pura e fria franqueza e a contextualização de quem é Ana, o que ela passou, comeu e como chegou até ali.

Como pano de fundo dessa pequena história de romance, a autora nos presenteia com diversas curiosidades incríveis sobre Brasília, fazendo o tempo todo referências aos artistas da capital. Quem não conhece a cidade, passa a conhecer um pouquinho mais e, eu pelo menos, ja quero agendar minha viagem para lá.

Lindo e fofinho. Recomendo.

sábado, 26 de junho de 2021

O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez

É muito difícil falar de "O Amor nos Tempos do Cólera", ou mesmo introduzir a obra, sem dar grandes spoilers da narrativa para quem nunca se informou sobre a história. Eu mesma peguei o livro para ler totalmente no escuro e, garanto a você, que a experiência é muito mais emocionante dessa forma. Mas, para aqueles que não se importam de ter um pouco das surpresas reveladas, e para aqueles que sabem que a escrita de Gabriel García Márquez é muito mais na vibe "aproveite a viagem" do que "chegar ao destino", prossigam na leitura dessa postagem sem medo.

"O Amor nos Tempos do Cólera" é a história de um quase triângulo amoroso. Digo "quase", pois não há o relacionamento dessas três pessoas de fato acontecendo ao mesmo tempo, apesar de os sentimentos estarem ali. 

O livro narra as vidas de Fermina Daza, Dr. Juvenal Urbino e Florentino Ariza. Fermina e Florentino viveram em sua adolescência um amor imensurável, porém virtual, por meio de incontáveis cartas, sem nunca de fato terem conversado ou se olhado nos olhos. O pai de Fermina, não aprovando a relação, a manda numa tortuosa viagem ao interior da Colômbia para a casa da prima, a fim de que esquecesse a existência de Florentino.

A viagem foi um insucesso, uma vez que só serviu para reavivar ainda mais a chama da paixão dos adolescentes, que trocavam telegramas clandestinos. Porém, após muitos meses, quando Fermina volta pra casa, ela e Florentino finalmente se encontram frente e a frente e Fermina tem uma baita desilusão ao perceber que Florentino era feio de doer.
 
Após o devido pé na bunda, Fermina se casa com Dr. Juvenal Urbino, um rico de família aristocrata, e Florentino foca a sua vida na carreira e nos prazeres carnais. Apesar de ser um relacionamento controverso, Fermina se recusa a se divorciar de Dr. Juvenal e viver sua vida como quisesse, o que impensável para uma moça de classe alta no século XVIII. Até que décadas depois, o Dr. morre e Florentino aparece para reconquistá-la.   

De uns anos para cá, eu tenho lido muitas obras do Gabriel (o plano é ler toda a obra do autor) e cada uma delas me encanta de uma maneira diferente. A beleza de "O Amor nos Tempos do Cólera" não é o realismo fantástico fascinante de "Cem Anos de Solidão", mas justamente o contrário: é a crueza e a honestidade com quem o autor retrata os processos de amadurecimento e envelhecimento do ser humano. Gabo aborda com sinceridade o início das limitações físicas e mentais que nosso corpo apresenta com a idade, além de retratar o amor e o sexo na terceira idade. Além disso, o autor ainda explora e questiona tradições o tempo todo, trazendo luz aos incômodos e até infelicidades profundas e duradouras que estas podem trazer na vida das pessoas. 

Gabo também me incomodou nesse livro. Confesso que nunca li sobre o histórico do autor para saber o que se justifica, mas achei duas situações narradas muito controversas. A primeira foi o descontentamento de Firmina ao descobrir que seu marido tinha uma amante negra. A personagem demonstra asco pela situação e diz inclusive que a amante tinha cheiro de gente negra. Pesadíssimo. A segunda foi uma "namorada" de Florentino, que é descrita como uma criança que ainda estava no colégio, enquanto Florentino já tinha mais de 70 anos. 

Apesar desses dois fatos, "O Amor nos Tempos do Cólera" é uma obra muito bonita, que nos faz acreditar no amor e de que tudo na vida tem uma hora certa para acontecer e que não devemos apressar os processos. Com certeza merece ser relida algumas vezes durante a vida para relembrar esses ensinamentos.

domingo, 28 de março de 2021

O Cortiço - Aluísio Azevedo

De verdade, eu acredito que os livros tem seus momentos certos para serem lidos. Mas esse momento não é o mesmo para todas as pessoas, mas com certeza eu não acredito que o momento de ler isso seja no início da juventude.

Mas a grade curricular entende que devemos conhecer nossos grandes nomes da literatura, concordo. Porem... Será que conseguiremos entender porquê essas pessoas se tornaram grandes nomes? Talvez.

Peguei para ler O Cortiço, porque não conheço quem não tenha ouvido falar dessa obra em qualquer momento da vida, sem ler não tinha muito o que dizer. E bem, agora eu posso dizer que realmente é interessantíssima.

O mais assustador. Se fosse escrita hoje, continuaria atual e o é.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Esaú e Jacó - Machado de Assis

Em "Esaú e Jacó", Machado nos relata as vidas desde o ventre de dois irmãos gêmeos idênticos: Pedro e Paulo. Após uma gravidez conturbada, a recém-mãe dos gêmeos, tomando todas as precauções exigidas por uma dama da sociedade, fora a uma vidente consultar a respeito do futuro dos seus rebentos. Saiu de lá com apenas uma promessa de seriam grandes homens e que "cousas boas eram esperadas". Nota da autora do post: desde que li o livro não consigo mais falar "coisas". Adicionei o "cousas" ao meu vocabulário cotidiano.

A infância e adolescência dos irmãos é retratada em meio à agitada vida social da família, nas mais altas classes da sociedade carioca do Império. Desde sempre, fica claro ao leitor que, apesar de gêmeos idênticos, Pedro e Paulo têm personalidades quase opostas. Um é combativo, outro pacificador. Na fase adulta, um se torna médico, outro advogado. Na política, um é conservador e outro revolucionário.  E na época retratada da história, quando da dissolução do Império e da proclamação da República, esta última distinção não foi apenas causa de rixas entre os irmãos, mas de verdadeiros entraves entre a tradicional família e a sociedade carioca.

Com o passar dos anos, vemos que a similaridade entre os dois passa a não se restringir apenas ao campo físico, pois começam a amar também a mesma mulher. Flora, uma jovem retratada como confusa e dissimulada, não consegue se decidir qual dos irmãos ama mais, pois vê em um tudo o que falta no outro, e vice-versa.

Li alguns comentários de que essa obra de Machado deixou a desejar, pois o enredo é bastante batido. Vejam, nem tem como discutir esse ponto. O próprio título do livro faz referência a uma história bíblica de dois gêmeos que também travam batalhas entre si em busca de amor e aprovação. Mas o que mais me fascina nas obras de Machado de Assis não é o enredo das histórias, é a narrativa. Muitas vezes, o autor usa o narrador como um personagem, tão importante quanto aqueles dos quais as histórias ele relata. Se utilizando da não onisciência do narrador, Machado nunca deixa certeza sobre o que de fato aconteceu ou o que as pessoas sentiram, deixando a cargo do leitor interpretar apenas os sinais e expressões captados pelo narrador. A irreverência das suas obras é gigantesca e envolvente. Sou muito fã do Machado, essa é só mais uma obra que li e amei.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Alameda do Carvalho - Ninna Vicari

"Alameda do Carvalho" é o romance de estreia de Ninna Vicari. Com ambientação em Londres, acompanhamos o desenrolar do relacionamento de Tom e Lily, pai e filha, com Mia, estudante de direito e babá de Lily em tempo parcial. Mia ama seu trabalho como babá, o que logicamente faz a menina Lily ser apaixonada por Mia. Mia também é apaixonada por Lily e por Tom. E Tom é apaixonado por Mia. Tudo parece certo e bem resolvido. 

Até aí o leitor pode achar que é uma história clichê e morna sobre um pai que se apaixona pela babá da filha e vivem felizes para sempre, mas não é bem assim. Para começar a esposa de Tom, mãe de Lily, morreu. No começo do livro, ainda não sabemos quais as circunstâncias da sua morte, que muito aos poucos vão sendo reveladas ao leitor durante a trama. A família da falecida acha tudo que Tom faz errado e sem sentido. Justamente por isso e sabendo as questões éticas envolvidas nas circunstâncias, Tom reluta em assumir o relacionamento com Mia publicamente, gerando ainda mais atrito no relacionamento. Será que essa relação vai conseguir superar todas as adversidades e prosperar? Até onde uma pessoa deve abrir mão do que realmente sente em prol do que as pessoas acham que é o certo a se fazer?

Esses são alguns dos questionamentos que Ninna Vicari nos traz. Diversos momentos me coloquei no lugar de ambos os personagens. O que será que eu faria se me apaixonasse pelo meu chefe? Como eu reagiria às provocações da sua "sogra"? Como não deixar todo esse drama respingar numa criança que ainda nem assimilou a morte da sua mãe? 

A estreia de Ninna Vicari mostra que ela chegou chegando e tem bastante a mostrar. A autora tem uma escrita muito madura e envolvente. O background dos personagens é extremamente bem construído, as linhas do tempo, os desenvolvimentos das narrativas e as personalidades dos personagens são coesos e sólidos. É nítido o cuidado e o tempo que a autora dispensou nessa obra. A sua capacidade descritiva é na medida certa, dando o suficiente para que montemos na nossa cabeça os personagens e os cenários maravilhosos, mas sem se perder nas descrições. A diagramação, capa, revisão estão impecáveis, o que é bastante impressionante para um trabalho independente. 

Foi uma jornada infelizmente curta, pois eu devorei o livro, e que deixou saudades quando terminou (deixou algumas lágrimas também). Valeu cada minuto. Não vejo a hora de ler mais um trabalho da Ninna!

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Amoridades - André Salviano

Amoridades é o primeiro livro de André Salviano, uma obra que trata por meio de diversos contos, talvez o tema mais abordado pela humanidade: o amor. Escrever uma obra marcante, ou só mesmo diferente, sobre um tema tão falado é, por vezes, difícil, e Salviano consegue. 

A poesia da obra já começa pela maravilhosa e sutil capa: duas escovas de dentes juntas, simbolizando tanto a união quanto a rotina. A cada conto, o autor esmiúça uma faceta do amor e das suas fases: começo, meio, fim, recomeço, fossa, volta por cima. Tudo é retratado aqui neste livro, que nos impressiona, nos faz chorar, relembrar, desejar e até gargalhar vez ou outra. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A Viagem de Théo - Catherine Clément

Théo é um adolescente francês de 14 anos filho de um francês e uma grega, que sempre demonstrou uma fragilidade além da média. O curioso é que mesmo tendo o nome de Théodore (que significa presente de Deus), Théo cresceu sem absolutamente nenhuma educação religiosa (seu pai era ateu convicto e detestava o catolicismo) e, tudo que sabia a respeito de religiões antigas e mitologia foi aprendido por conta própria ou inserido na sua cabeça por meio de sua vó materna grega, Théano.

A mãe desconfiava de que ele tinha algo errado, mas não sabia o que era. Até o dia que ele desmaia e os exames médicos confirmam: está gravemente doente. Em nenhum momento a autora explicitamente fala qual doença ele tem mas, analisando os sintomas e sinais, fica claro que ele tem leucemia. O caso é grave e aparentemente os médicos o deram pouco tempo de vida.

sábado, 27 de julho de 2013

Travessuras da menina má - Mario Vargas Llosa

Da última vez que fiquei sem opções de leitura, joguei a pergunta no Facebook para ajuda dos amigos: preciso de um livro maravilhoso, qual o último livro maravilhoso que você leu. Achei que fosse encontrar um monte de opiniões variadas e nenhum consenso, mas, para a minha sorte dois livros tiveram mais de um voto, indo direto para a lista "tenho que comprar". Um deles foi "Reparação", de Ian McEwan, que ainda está na prateleira aguardando a vez, o outro foi "Travessuras da menina má", de Mario Vargas Llosa.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

La Tía Júlia y el Escribidor - Mario Vargas Lllosa

Mario Vargas Llosa nesta obra "meio auto-biográfica, meio ficção" nos envolve num romance digno de novela mexicana, ou melhor, Peruana, nos contando a respeito de sua primeira aventura matrimonial. 

A história se passa em Lima, capital do Peru, nos anos 50. Mario, ou Marito, é um jovem de 18 anos estudante de direito que mora com os avós. Seus pais, deveras tradicionais e controladores, moram nos Estados Unidos e o bancam à distância. 

Marito trabalha numa estação de rádio como redator dos boletins de notícias que estava em verdadeira decadência até a contratação do mega-sucesso boliviano de radio-novelas, Pedro Camacho. Pedro é o típico workaholic, que se afunda em trabalho e se priva dos prazeres mundanos, pois crê que estes sugam a vitalidade necessária para que um bom trabalho seja feito. Suas radionovelas nos acompanham por todo livro, sendo intercaladas com a história de Varguitas, embasando a história real e demonstrando a crescente confusão mental de Pedro ao passar do tempo.

Tudo parece estar nos conformes até que Marito se vê apaixonado pela tia Júlia, cunhada de seu tio, que se mudou da Bolívia para o Peru após uma separação um tanto quanto polêmica à época.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Um dia - David Nicholls

"Um dia" ficou na lista dos mais vendidos lá fora por um tempão. Aí chegou aqui e já foi para a lista dos mais vendidos também. Logo depois, anunciaram que ia virar filme. Alguma coisa ele tem, certo? Fiquei muito reticente até comprar esse livro, mas precisava saber o que é que todo mundo estava lendo. Ouvi muitas coisas boas sobre ele, gostei do marketing da Intrínseca e gostei do trailer, então, resolvi me render e dar uma chance ao David Nicholls.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Os três mosqueteiros - Alexandre Dumas

Acho que o maior cuidado que devemos ter na hora de ler um clássico é escolher uma boa edição. Nem todo mundo se preocupa com isso, mas é fundamental para que você entenda perfeitamente a obra e goste dela como deve gostar. Passeando pela livraria, encontrei essa versão "pocket" de "Os três mosqueteiros", de Alexandre Dumas, da Editora Zahar. Tudo me chamou a atenção: capa dura, imagem linda, livro de boa qualidade, marcador de pan, prêmio de tradução e preço baixo. Era a minha hora de ler Dumas.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mil dias em Veneza - Marlena de Blasi

Tenho que confessar que eu tenho preconceito com autoajuda e romances fofos demais. Daqueles em que tudo dá certo e em que a vida é um filme da Disney. Salvo raríssimas exceções (que eu não consegui lembrar agora), eles não são nenhum exemplo de boa literatura. Por outro lado, eu amo biografias e acho que todo mundo tem algumas coisa divertida para contar.Por influência materna e gastronômica, resolvi ler Mil dias em Veneza, da jornalista e chef Marlena de Blasi, também autora de Mil dias na Toscana. Se eu perdi o preconceito? Nem um pouco. Ainda assim, o livro é tão rápido de ler, que dificilmente vai atrapalhar a sua lista de "livros que eu realmente preciso ler", então, está valendo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A solidão dos números primos - Paolo Giordano

"A solidão dos números primos" ("La solitudine dei numeri primi") não é um livro comum. Mas eu tenho a impressão de que boa parte da literatura italiana é assim. Muito mais filosófico e psicológico do que um romance, o livro conta a história da ligação entre duas pessoas ao longo da vida: Mattia e Alice. A história virou filme em 2010, e foi o trailer que me chamou a atenção, parecendo algo como "Rosso come il cielo", outro filme lindo do mesmo estilo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Água para elefantes - Sara Gruen

Alguns livros só me convencem de serem lidos quando eu fico sabendo que foi lançado um filme sobre ele. Não porque eu passe a achar que ele deva ser bom, e sim porque eu fico com muito medo de ficar sabendo o final da história por outra pessoa depois que ele for popularizado ou de "ter que" ver o filme por outro motivo qualquer e perder completamente a chance de ler o livro um dia. "Água para elefantes" foi um desses. Quase o comprei várias vezes durante o ano passado, porque achava a capa fofa, porque estava na lista dos mais vendidos e porque o título era intrigante. Mas não comprei. Até que lançaram o filme.

domingo, 26 de junho de 2011

Querido John - Nicholas Sparks

A história desse livro começa mais ou menos assim: Savannah, uma menina proveniente da família perfeita, estudante universitária de Educação Especial, com futuro promissor e, claro, dona de uma beleza ingênua e arrebatadora conhece John, jovem que costumava ser rebelde na adolescência, filho de um pai solteiro com problemas de relacionamento e que se alistou no exército para procurar um sentido na sua vida. 

Os dois se conhecem na cidade natal de John, enquanto ele estava na sua licença militar e ela passava o verão com um grupo de jovens da igreja construindo casas para os desabrigados. Nas duas semanas que passam juntos, os dois se apaixonam perdidamente e creem ter encontrado o amor de suas vidas.

domingo, 12 de junho de 2011

Quarto - Emma Donoghue

"Quarto" ficou na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos durante algumas boas semanas. Não tinha me convencido naquela época, mas, quanto mais tempo ele continuava naquela lista, mais eu me convencia de que ele tinha que passar pela minha cabeceira, nem que fosse para eu dizer que não tinha gostado e pronto. Acontece que o livro tem muito mais pontos bons do que ruins, e, por isso, não me arrependi de ter lido. Nem morri de amores por ele. O problema é que a sinopse dele se parece muito com a de outro lançamento, de não-ficção, e a minha queda por biografias é maior do que por livros que "parecem" biografias.